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Simão Dias,27/11/2024

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Fortaleza caminha para segundo turno polarizado entre Evandro Leitão e André Fernandes

Não é apenas São Paulo que vem absorvendo as atenções dos viciados em política.

Miguel do Rosário/O Cafezinho
Fortaleza caminha para segundo turno polarizado entre Evandro Leitão e André Fernandes Ciro e Sarto. Fonte: Facebook. O candidato de Ciro Gomes, que tenta a reeleição, enfrenta rejeição crescente e deve ficar fora do segundo turno.

Não é apenas São Paulo que vem absorvendo as atenções dos viciados em política.  

Fortaleza, cidade mais rica do Nordeste, com um PIB estimado pelo IBGE em R$ 73 bilhões em 2021 (o segundo e terceiro lugares são de Salvador e Recife, com PIBs de R$ 63 e R$ 55 bilhões, respectivamente), também vem entregando uma campanha eletrizante!  

A coisa ficou animada sobretudo a partir da divulgação da Quaest, no dia 11 de setembro, contratada pelo grupo Verde Mares (por R$ 86 mil), proprietário do Diário do Nordeste. Ela foi a primeira a captar uma reviravolta nas intenções de voto, com o capitão Wagner e o prefeito José Sarto registrando fortes quedas, ao passo que os dois candidatos da “polarização”, André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT), saltaram para posições de liderança (embora estejam todos embolados num empate técnico, dentro da margem de erro). 


A bem da verdade, o Atlas Intel, que é feita pela internet, e que usa alguns elementos de pesquisa qualitativa, já tinha antecipado o crescimento de Evandro Leitão e André Fernandes. Contratada por uma empresa de mídia local, a Focus Poder, por R$ 25 mil, a Atlas Intel foi recebida com reserva por alguns analistas e jornalistas cearenses, em virtude de se distanciar muito, naquele momento, do que diziam outras pesquisas.  

De qualquer forma, as pesquisas seguintes confirmariam tanto a Atlas como a Quaest.  

O Datafolha, contratada pelo grupo O Povo por R$ 76 mil, mostraria o mesmo movimento: declínio de Wagner e Sarto e ascensão de Evandro Leitão e André Fernandes. 


Outras duas pesquisas, a Paraná e a Real Time, mais recentes, serviram para consolidar o que se tornaria, a partir daí, quase um consenso entre analistas políticos cearenses: Wagner e Sarto são cartas fora do baralho e o segundo turno em Fortaleza deverá ser disputado por André Fernandes e Evandro Leitão.  

Naturalmente, os jornalistas cearenses dos grupos de mídia locais precisam tomar cuidado com a linguagem, e sempre repetir que pesquisas não são profecias, e que muita coisa pode acontecer até o dia 6 de outubro.  

Mas é que não se trata apenas de pesquisa. Quer dizer, se cinco institutos de pesquisa mostram o mesmo movimento dos eleitores, é provável que o movimento seja real. Mesmo assim, há outros elementos importantes, que ajudam a explicar o que acontece em Fortaleza.

 

Em primeiro lugar, é preciso olhar para o que houve em 2022. Quando se analisa uma pesquisa de intenção de voto, é sempre aconselhável ter em mente a mais recente eleição, pois não existe pesquisa melhor do que o resultado das urnas.  

E as urnas cearense falaram grosso em 2022. A capacidade demonstrada pelo ex-governador Camilo Santana de transferir votos para seu indicado foi testada e aprovada com louvor. O então desconhecido Elmano de Freitas, que iniciou a campanha em último lugar nas pesquisas, ultrapassou todo mundo na reta final e venceu no primeiro turno, com 54% dos votos válidos.  

Em Fortaleza, todavia, o candidato do União Brasil para o governo do estado, Capitão Wagner, liderou o primeiro turno de 2022, com 41,51%, quatro pontos à frente de Elmano, que obteve 37,6% dos votos.  

O candidato do PDT para o governo do estado, Roberto Claudio, que havia sido prefeito por duas vezes de Fortaleza, ficou em terceiro lugar, com 20,6%. 

Já os resultados presidenciais no primeiro turno deram folgada vitória a Lula na cidade de Fortaleza, com 53,2% dos votos válidos, seguido de Jair Bolsonaro, com 35% e Ciro, com 8,6%. No segundo turno, Lula ganhou em Fortaleza com 58% dos votos, contra 41,8% de Bolsonaro.  

Essa forte vantagem eleitoral de Lula em Fortaleza, somada à rejeição altíssima que Jair Bolsonaro tem junto aos eleitores da capital cearense, configuram naturalmente um forte trunfo político para o candidato Evandro Leitão, do PT. 

Outro trunfo de Evandro está na força de suas alianças partidárias, que lhe ajudaram a subir seu tempo diário de propaganda eleitoral na TV para 5 minutos, contra 2 minutos de André e 1 minuto para Wagner e Sarto.  

A propósito, Evandro Leitão esteve, dias atrás, em Brasília, para se encontrar com o presidente Lula, e combinar uma data para que o presidente participe de alguma ação eleitoral em Fortaleza, para fechar a campanha petista com chave de ouro. 

Para o bolsonarismo, um bom desempenho, ou mesmo uma vitória, de seu candidato em Fortaleza, seria visto como a conquista de uma importante base política, para a direita avançar pelo nordeste nas eleições presidenciais de 2026.  

Já para o PT, Fortaleza é a possibilidade mais concreta para o partido sair dessa eleição com ao menos uma capital importante, ainda mais depois que a orientação da legenda foi fazer um recuo estratégico nas metrópoles e capitais, priorizando alianças com forças políticas de centro que tivessem mais chance de vitória. E nas capitais em que o PT decidiu se lançar sozinho, apenas com alguns poucos aliados à esquerda, não está indo bem em quase nenhuma pesquisa. É o caso de Belo Horizonte e Porto Alegre, por exemplo. 

Independentemente do resultado no segundo turno em Fortaleza, é possível identificar, desde já, dois grandes derrotados: a ala política do PDT que se reúne ao redor de Ciro Gomes, e o próprio Ciro. O ex-ministro vem conduzindo o seu grupo político de um abismo para outro, e agora, com a derrota certa de Sarto nas eleições deste ano, Ciro Gomes será o responsável mais direto pela perda da última máquina política controlada por seus amigos. A partir do ano que vem, o PDT terá que refletir seriamente sobre o papel determinante de Ciro Gomes no processo de implosão do partido no estado e no país. 

Os desvarios de Ciro Gomes levaram o PDT perder o governo do estado, forçaram a maioria dos prefeitos a se desfiliar da legenda, e isolaram fatalmente a candidatura de Sarto.  

O último Datafolha, que é a pesquisa grande mais recente, traz dados suficientes para entender que Sarto está diante de problemas realmente complicados.  

Entre os eleitores que ainda continuam leais a Sarto, apenas 48% disseram que votam nele por ser “o candidato ideal”. Para efeito de comparação, os eleitores de Fernandes e Leitão são bem mais orgânicos: 63% dos eleitores de Fernandes o consideram o “candidato ideal”, percentual que é de 56% para os eleitores de Evandro. 


Sarto tem outra grande dificuldade: é o mais rejeitado dos candidatos, e essa rejeição está crescendo. Ele é fortemente rejeitado tanto como candidato como prefeito. 38% dos entrevistados disseram que não votam em Sarto de jeito nenhum. A rejeição a Evandro e Fernandes é de apenas 29% e 28%, respectivamente. 


A avaliação da administração da cidade também se deteriorado. É raro ver isso. Geralmente durante uma campanha eleitoral, a avaliação do prefeito melhora, pouco ou muito, em função do espaço maior que o administrador tem para falar de seu trabalho. No caso de Sarto, a sua rejeição (notas ruim e péssimo para seu desempenho como prefeito) literalmente explodiu nas últimas semanas, de 29% para 36%, ao passo que sua aprovação caiu de 25% para 21%.  

O Datafolha trouxe ainda a avaliação de prefeitos anteriores de Fortaleza, e Sarto tem um dos piores índices da história do município. 



Por fim, os dados estratificados da pesquisa Datafolha trazem alguns pontos interessantes. Vou destacar aqui alguns números, sobretudo do Evandro Leitão.  

O grande trunfo de Evandro, caso os estratos do Datafolha estejam corretos, é que ele lidera com 30% o voto entre eleitores com 60 anos ou mais. Essa faixa etária representa quase 20% de todos os eleitores de Fortaleza. Sarto tem apenas 15% nesse estrato. André Fernandes, por sua vez, tem 19% nessa faixa. 

O seu maior ponto franco, por outro lado, é sua debilidade entre o eleitor com 16 a 24 anos, onde o petista pontuou apenas 4% no Datafolha. Outras pesquisas confirmam essa vantagem de Leitão entre os mais velhos, e sua fragilidade na juventude. 

Na faixa etária imediatamente anterior, de eleitores com 45 a 59 anos, Evandro também tem força, com 25% das intenções de voto, contra 17% para Sarto, 21% para André e 28% para Wagner.  

Um estrato onde Evandro ainda pode crescer bastante, mas no qual, até o momento, ele não tem um bom desempenho, é o eleitor de baixa renda, que ganha menos de 2 salários por mês, considerando toda a família. O petista tem apenas 18% nessa faixa, contra 22% para André e 25% para Wagner. 


Abaixo, você encontrará links dos relatórios completos das últimas pesquisas de Fortaleza. Entre parênteses, deixei o contratante e o valor pago por cada uma delas. A data se refere ao último dia das entrevistas. 

Atlas Intel 4/Set (Focus Poder, R$ 25 mil) 
Quaest 10/Set (Verdes Mares, R$ 85.950,00) 
Datafolha 13/set (O Povo, R$ 76.630,00) 
Paraná Pesquisas 15/Set ( DON7 MEDIA LTDA, R$ 50 mil):  
Real Time Big Data 17/set (3 Poderes Mídia e Comunicação LTDA, R$ 15 mil) 

A semana que entra, por sua vez, promete ainda mais emoções.  

A agitação começa logo na segunda-feira, 23 de setembro, com a divulgação do novo levantamento do Paraná Pesquisas, contratado pela DON7 Media LTDA, ao custo de R$ 60.000,00.  

Na terça-feira, 24 de setembro, será divulgada a pesquisa da Atlas Intel, contratada por Focus Poder por R$ 25.350,00. Ao longo da semana, novas pesquisas serão divulgadas diariamente. Na quarta-feira, 25 de setembro, saem os resultados da Quaest, contratada por Verdes Mares por R$ 85.950,00, e da Datafolha, contratada por O Povo por R$ 76.630,00. Na quinta-feira, 26 de setembro, será a vez da pesquisa do Ipespe, contratada pela Seara Brasil Notícias/Frissonnews, ao custo de R$ 76.800,00. 

Uma pesquisa que chama a atenção é a do Instituto Veritá, prevista para ser divulgada na sexta-feira, 27 de setembro. Além de ser uma das mais cara, R$ 80 mil, ela é a única financiada exclusivamente com recursos próprios do instituto, algo incomum no mercado de pesquisas eleitorais. O financiamento autônomo de pesquisas pode levantar questionamentos sobre a origem dos recursos.




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