Israel hackeia redes de telecomunicação do Líbano e envia mensagens aos civis: "afastem-se do Hezbollah"
Avisos enviados aos moradores de Beirute e do sul do Líbano geram temor de escalada militar
Em uma ação que levanta preocupações sobre a escalada de um conflito em grande escala, autoridades militares de Israel emitiram avisos a residentes do sul do Líbano e de áreas de Beirute, instruindo-os a deixar suas casas em meio a temores de novos bombardeios. A informação foi confirmada pela rede Al Jazeera, que também noticiou que o exército israelense teria hackeado as redes de telecomunicação libanesas para enviar mensagens e ligações telefônicas diretas aos civis.
O ataque aéreo israelense começou horas depois dos avisos de segunda-feira e já resultou na morte de mais de 180 pessoas no sul do Líbano. O porta-voz militar israelense Daniel Hagari, em pronunciamento via redes sociais, anunciou uma operação aérea "em larga escala" no leste do Líbano. Além disso, os alertas feitos aos moradores de Beirute indicam que Israel pode estar planejando expandir os bombardeios para a capital libanesa.
Os avisos, recebidos via mensagens de texto e chamadas telefônicas de números locais libaneses, instruíam os moradores a se afastarem de áreas consideradas como redutos do Hezbollah. "Se você está em um prédio com armas do Hezbollah, afaste-se da vila até novo aviso", diziam as mensagens vistas pela Al Jazeera.
Além disso, transmissões de rádio também foram hackeadas para divulgar os avisos, ampliando a sensação de vulnerabilidade entre os libaneses. Ziad Makary, ministro da Informação do Líbano, foi um dos que receberam as chamadas, segundo informações da Agência Nacional de Notícias.
Israel demonstra superioridade tecnológica
A incursão de Israel nas redes de telecomunicações do Líbano não é novidade para os especialistas em segurança. Segundo Elijah Magnier, analista de risco e conflitos, Israel tem há muito tempo a capacidade de acessar informações detalhadas de civis libaneses, como números de telefone, endereços e até placas de veículos. “Eles são capazes de se comunicar com qualquer pessoa no sul do Líbano, da mesma forma como fazem na Cisjordânia ou em Gaza", disse Magnier.
Essa capacidade de hackear redes de comunicação libanesas, apontada por especialistas como um sinal da superioridade tecnológica de Israel, tem sido usada para identificar concentrações de dispositivos móveis e, consequentemente, determinar alvos para ataques aéreos. "Quando os sistemas de inteligência detectam um número incomum de dispositivos em uma determinada área, eles concluem que há uma reunião, potencialmente do Hezbollah, e então lançam os mísseis", explica Magnier.
Em 2018, Israel já havia sido acusado pelo governo libanês de hackear as redes locais e enviar mensagens gravadas aos civis, alertando-os sobre possíveis ataques. Essas táticas, que remetem à guerra psicológica, foram intensificadas durante o atual conflito, ampliando o medo e a incerteza entre os libaneses.
Consequências para a privacidade e segurança dos libaneses
A fragilidade do Líbano em termos de segurança digital também tem contribuído para a exposição de seus cidadãos. O país possui uma estrutura de proteção de dados deficiente, e o próprio governo libanês já foi responsável por vazamentos de informações, como ocorreu nas eleições gerais de 2018, quando dados pessoais de cidadãos libaneses da diáspora foram expostos.
Além disso, o histórico de espionagem de comunicações no Líbano remonta a 2007, quando redes de espiões do Mossad focadas em sistemas de comunicação foram descobertas no país, logo após a guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah. Especialistas também apontam que o malware Pegasus, desenvolvido por uma empresa israelense, tem sido utilizado por diversos governos para espionagem, o que aumenta as suspeitas de monitoramento em larga escala na região.
Com a escalada do conflito e as contínuas invasões à privacidade dos libaneses, a vulnerabilidade tecnológica do país, aliada à capacidade militar e de inteligência de Israel, coloca o Líbano em uma posição ainda mais delicada. O número crescente de civis deslocados e o temor de que Beirute possa ser alvo de novos bombardeios só reforçam o clima de incerteza no país.
COMENTÁRIOS