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Simão Dias,27/11/2024

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Em Nova York, Lula pretende firmar a posição do Brasil como referência do Sul Global

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à cidade com a missão de reforçar a posição do Brasil como um líder emergente do Sul Global e participará de eventos importantes, como a Cúpula do Futuro e a Assembleia Geral da ONU

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Em Nova York, Lula pretende firmar a posição do Brasil como referência do Sul Global O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa na “Cúpula do Futuro” no Salão da Assembleia Geral na sede das Nações Unidas em Nova York, EUA, em 22 de setembro de 2024. REUTERS - David Dee Delgado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à cidade com a missão de reforçar a posição do Brasil como um líder emergente do Sul Global e participará de eventos importantes, como a Cúpula do Futuro e a Assembleia Geral da ONU. Lula pretende discutir temas como o multilateralismo, a mudança climática e a luta contra a fome, além de propor reformas significativas nas estruturas internacionais. 

A viagem de Lula é essencial para reforçar sua meta de ser um protagonista na reformulação das regras globais e do sistema internacional.  

Este será um teste para a política externa do Brasil, que avaliará sua capacidade de influenciar o cenário global em meio à reorganização de poderes e instituições, como a ONU.  

Lula participará de cerca de 30 encontros bilaterais, com reuniões já confirmadas com a França, Haiti, Espanha e União Europeia. Após o anúncio do retorno do Brasil ao cenário internacional em 2023, o objetivo agora é mostrar os primeiros resultados dessa retomada, com foco na aliança contra a fome e no papel do país no G20.  

O discurso de abertura da Assembleia Geral foi elaborado pelo Itamaraty e ajustado pelo Palácio do Planalto. O texto irá destacar a questão climática, tendo em conta a relevância das queimadas recentes no Brasil. 

Espera-se também que o presidente brasileiro dê continuidade aos temas já abordados no discurso emitido durante a Cúpula do Futuro, quando Lula subiu o tom das críticas, lembrando que o sistema multilateral atual, incluindo a ONU e o Conselho de Segurança, precisam de reformas profundas para incluir o Sul Global de forma mais justa e eficiente. 

Além disso, Lula deve dobrar a aposta por uma maior regulação dos meios digitais, como plataformas como o X (ex-Twitter), para evitar a propagação de notícias falsas e discurso de ódio e, assim, proteger a democracia. 

Compromissos do Presidente e da Comitiva  

Além dos compromissos já mencionados, Lula participará de eventos promovidos pela Iniciativa Global Bill Clinton e dividirá o palco com Bill Gates na premiação Goalkeepers, onde receberá um prêmio por sua trajetória no combate à fome. 

Trata-se da premiação anual da Fundação Bill e Melinda Gates que reconhece indivíduos que tenham contribuído para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.  

Estão confirmadas reuniões bilaterais de Lula com o Primeiro Ministro do Haiti, Garry Conille, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.  

Com relação ao governo brasileiro, destaca-se a participação em uma atividade da Cúpula para o Futuro, organizada pela Plataforma Global de Líderes Mulheres nas Finanças. O Brasil terá uma participação destacada nas discussões sobre financiamento para a transição justa e para energia verde.  

A ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Banco de Desenvolvimento do BRICS (NDB), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participarão ao lado de líderes como Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, e Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI.  

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abordará a transformação ecológica e o uso de facilitadores financeiros para ampliar o financiamento público e privado. 

O evento também destacará o papel das mulheres nas finanças, com a presença da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, discutindo como mulheres líderes poderão acelerar o financiamento de energia verde.  

Impacto das enchentes no Rio Grande do Sul  

Durante um evento do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) ocorrido em Nova York, o brasileiro que preside o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, antecipou que as enchentes no Rio Grande do Sul terão um impacto econômico de R$ 87 bilhões. Segundo um estudo elaborado em conjunto pelo BID, CEPAL e Banco Mundial, a retração do PIB gaúcho deve ser de 1,8% neste ano. 

O estudo completo será divulgado nos próximos dias. Goldfajn também compartilhou informações sobre as ações que estão sendo tomadas no estado. Em maio, o BID ofereceu R$ 5,5 bilhões em assistência, além dos R$ 10,5 bilhões destinados a financiar iniciativas relacionadas à crise hídrica no Brasil.  

Durante o evento, Goldfajn recordou a gravidade da situação. “Há alguns meses, eu estava no Brasil ajudando e oferecendo assistência com as enchentes no Rio Grande do Sul de abril. Foi a pior enchente já registrada, deixando 182 pessoas mortas e muitas desabrigadas.” 

Participação do Brasil na Climate Week NYC  

A Climate Week NYC, que começou neste domingo dia 22 e vai até o dia 29 de setembro, é um evento que acontece anualmente em paralelo à Assembleia da ONU. A atividade reunirá representantes dos setores público e privado para impulsionar a ação climática.  

No dia 24 de setembro, organizações da sociedade civil brasileira realizam o evento "Climate Politics and Climate Science". O encontro, promovido pelo Instituto Arapyaú, Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Uma Concertação pela Amazônia, visa debater desafios e soluções na agenda climática com a participação de autoridades e cientistas.  

Entre outros temas, serão discutidos os preparativos para a COP30, que ocorrerá em Belém do Pará em 2025, quando, pela primeira vez, a conferência será realizada na Amazônia. Estarão presentes Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima e o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago. 

'Naturalizar a fome de 733 milhões seria vergonhoso', diz Lula, que citou 'fracasso coletivo' em cúpula da ONU em NY 


O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fala à Assembleia Geral das Nações Unidas durante a Cúpula para o Futuro, no domingo, 22 de setembro de 2024, na sede da ONU. (AP Photo/Frank Franklin II) AP - Frank Franklin II

"Naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso", afirmou ainda o presidente brasileiro, antes de lembrar que a crise de governança mundial exige transformações estruturais. Lula considerou que o mundo caminha para um "fracasso coletivo" e que não atingirá metas de redução de fome e pobreza. O presidente brasileiro elogiou ainda o Pacto Global Digital para "diminuir assimetriais" e exclusões decorrentes de "novas tecnologias como a Inteligência Artificial".  

"Falei anteriormente sobre a necessidade de reformar a ONU, para que ela possa cumprir seu papel histórico", disse o chefe de Estado brasileiro, dizendo que a "reflexão conjunta" havia apresentado frutos, como "o Conselho dos Direitos Humanos". 

"Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente", afirmou Lula, que dispunha de apenas cinco minutos para falar, e acabou tendo o microfone cortado na ONU, por ultrapassar o tempo, mas continuou o discurso até o fim.  

Pacto pelo futuro  

Em um mundo ameaçado por "riscos catastróficos crescentes" como guerras, mudanças climáticas e pobreza, os líderes dos 193 países da ONU adotaram neste domingo (22) um "Pacto para o Futuro" da humanidade, apesar da oposição de alguns países como Rússia, Venezuela e Nicarágua.  

"Convoquei esta cúpula porque os desafios do século 21 devem ser resolvidos com soluções do século 21" , afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, após a adoção deste texto com 56 medidas para enfrentar os "maiores desafios do nosso tempo". 

Estes desafios vão desde a reforma do Conselho de Segurança da ONU, a arquitetura financeira global, a manutenção da paz e as mudanças climáticas, até questões mais inovadoras, como a inteligência artificial.  

Guterres lançou a ideia da chamada 'Cúpula do Futuro' em 2021, mas nos últimos dias não escondeu sua frustração diante das dificuldades de chegar a um consenso para um texto ambicioso, para o qual pediu aos Estados que mostrassem "visão", "coragem " e "ambição".  

"Acreditamos que existe um caminho para um futuro melhor para toda a humanidade, incluindo para aqueles que vivem na pobreza e na exclusão", diz o texto, ao qual se opuseram Rússia, Venezuela, Nicarágua, Coreia do Norte e Belarus. 

Apesar da oposição dos países liderados pela Rússia, o Pacto e os seus anexos (Pacto Global Digital e Declaração para Gerações Futuras) foram adotados por consenso, mas não são vinculantes.  

Esta nova "caixa de ferramentas" define novos compromissos, abre "novos caminhos para novas possibilidades e oportunidades", lembrou Guterres, que prometeu trabalhar "para sua concretização até ao último dia" de seu mandato.  

"Não retroceder"  

"Abrimos a porta, agora todos nós devemos passar por ela, pois não se trata apenas de nos entender, mas de agir. E hoje os desafios a agir", disse Guterres. 

Para a ONG Human Rights Watch, o projeto inclui alguns "compromissos importantes" nesta área, e também acolhe os elementos importantes sobre "direitos humanos".  

Mas "os líderes mundiais devem demonstrar que estão dispostos a agir para garantir o respeito pelos direitos humanos", insistiu Louis Charbonneau, especialista da ONG na ONU.  

O combate ao aquecimento global foi um dos pontos mais sensíveis da negociação, em particular a "transição" das energias fósseis para as mais limpas. 

"Não é revolucionário"  

Embora existam algumas "boas ideias", "não é o tipo de documento revolucionário" para reformar o multilateralismo que Guterres gostaria, disse Richard Gowan, pesquisador do International Crisis Group.  

Uma opinião compartilhada entre diplomatas dos Estados-membros da ONU: "morno", "o menor denominador comum", "decepcionante" foram os adjetivos mais frequentes para classificar o documento.  

Os países em desenvolvimento exigiram compromissos concretos relacionados às instituições financeiras internacionais, para facilitar o acesso preferencial ao financiamento de medidas para enfrentar as mudanças climáticas. 

"Este é um sinal positivo para o caminho a seguir, mas o verdadeiro trabalho está na implementação e os líderes políticos devem transformar esta promessa em ação", reagiu o diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Mads Christensen. 

"Este pacto deve realmente oferecer um futuro que as pessoas desejam: livre de combustíveis fósseis e um clima seguro", concluiu. 




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